Era uma tarde de verão igual a todas as outras tardes.
Tinha apenas a particularidade de ser uma tarde de domingo.
Estávamos, num baile de garagem, igual a muitos que nesse tempo se faziam.
Quando cheguei, olhei com cuidado toda a sala, e quando te vi, logo percebi que eras tudo o que eu mais queria.
Mas, uma qualquer timidez masculina me impediu de te ir buscar para dançar.
Assim fui assistindo maravilhado ao rodopiar, elegante do teu lindo e magro corpo que ao som de cada música nos braços de outro percorria toda a sala.
Não tirei mais os meus olhos de ti.
Percebi, que o meu olhar fixo te incomodava, e que se estava a tornar numa brisa quente que te afagava o corpo o espírito e a mente.
De repente a música parou, o rapaz dos discos, liga então o microfone e numa voz rouca e baixa…anuncia!
A próxima música é para embalagem de damas.
Nesse tempo embalagem de damas significava que os rapazes se sentavam, e eram as raparigas que cruzavam o salão e escolhiam o seu par para a dança.
Meu corpo tremeu, meus olhos se fecharam, percebi que ali naquele momento iria acabar o meu sonho de te ter.
Não queria e não podia, sem sofrer, assistir à sua escolha.
A música começou a tocar – a canção era Mónia, e eu estava parado, de olhos fechados, a um canto do salão.
Segundos depois um leve toque no meu braço fez com que tivesse de abrir os olhos mesmo sabendo, que forçosamente a teria de ver dançando com a sua escolha.
Engano meu.
Tu estavas ali, mesmo á minha frente, convidando-me para essa única dança que sempre acontecia, uma única vez por tarde.
Aquela foi para mim a tarde mais linda de todas as tardes, e tu, sem o saberes, acabaste com aquele gesto por timidamente te tatuares definitivamente na minha vida.
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