O MEU ÚNICO LUXO







TEU AMOR ERA O MEU ÚNICO LUXO


O teu amor foi na época o meu único luxo.
Esperei! Esperei, mas depressa voltei a ficar só, naquela cama gelada, naquele quarto escuro e cheio de objectos feios. 

A espera já ia longa quando percebi que tu já não vinhas. 

Estendi-me então sobre a cama e pensei em nós dois. 

Tu estavas debaixo do meu corpo, o teu queixo pousava sobre o meu ombro, as tuas pernas entrelaçavam-se nas minhas, o meu braço apertava a tua cintura, a minha mão estava na tua virilha e os meus dedos anichados nas pregas do teu ventre como se fossem raízes procurando a vida nas profundezas do teu corpo quente. 

Tu naquele dia fazias-me falta. Muita falta.

Estendi a mão para a frente, para os lados mas sempre sentia naquela cama fria um espaço gelado e inabitado que me rodeava por todos o lado e no meio do qual eu, timidamente me encolhia, só e abandonado.

Mesmo contigo ausente, senti um doloroso e violento desejo de me agarrar ao teu corpo belo e quente.

Nu… 
Abandonado naquele quarto escuro depressa tive a nítida sensação de estar viúvo. 

Estendi os braços pela última vez debaixo dos lençóis e imaginei que te estava a beijar e abraçar. 

Como foi sempre grande o meu apetite por dormir… acabei por adormecer. 

Na manha seguinte acordei com um raio de sol sobre a almofada, ainda meio ensonado ouvi o telefone tocar, corri para ele, ouvi a tua voz mas subitamente não tive vontade de te atender. 

Repus o auscultador voltei ao quarto, vesti-me e mesmo sabendo que o teu amor era o meu único luxo, que eu na verdade te continuava a querer… 
Não te atendendo, tive a certeza de que nunca mais te iria ver.



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