O DIA SEGUINTE






Quando naquela noite a luz branca e crua dos faróis do meu carro iluminou por completo o teu corpo, tive de imediato a sensação de que aquela luz te despia por completo e te pregava nua na parede, sobre um cartaz que perpetuava o teu fascínio e a tua exuberante beleza.

A noite na cidade estava fantasticamente linda, e quase que por magia o meu carro tinha-se abeirado do passeio e seguia-te passo a passo.

Vi que olhavas de quando em quando disfarçadamente para o automóvel que continuava a seguir-te devagarinho, e resolvi então parar.
Deitei de fora a cabeça e numa voz que pretendi doce, disse-te:
Boa Noite!
Boa noite ­– respondes-te tu.

Animado pela tua resposta perguntei-te, onde vais assim tão só?
Posso acompanhar-te?

- Depende…
Percebi que não seria elegante convidar-te para entrar.
Estacionei o carro e ficamos ali a falar um pedaço, depois fomos caminhando sempre um ao lado do outro…

Ao contrário de hoje a cidade à noite fervilhava de casais passeando, olhando as montras das lojas sempre bem iluminadas, e cuja iluminação branca misturada com a amarelada da iluminação pública faziam de cada rua um cenário sem sombras, arrumado, limpo e encantador.

Era… curto o teu trajecto nessa noite e depressa chegamos ao teu destino.

Antes de te deixar…
Questionei-te sobre mim, e pude perceber que tu começavas a simpatizar fortemente comigo, e que te sentias ao mesmo tempo… curiosa e atraída por mim.

Já eu comecei logo a consubstanciar em ti todas as coisas que desejava e amava e de que até então estivera privado.

Marcamos para a mesma hora do dia seguinte, e toda essa noite foi passada em angústia total, pois não tinha a certeza de no dia seguinte te encontrar.


O DIA SEGUINTE

Valeu a pena a espera, pois na hora marcada, ali estavas tu mais linda do que no dia anterior.
Abri a porta do carro, tu entras-te, e de imediato pus o carro em movimento.

Durante todo o trajecto não paramos de falar e rir animadamente; e lembro-me ainda hoje … das emoções sentidas, sempre que a minha mão tocava o teu corpo a cada mudança de caixa, que o vagaroso movimento do carro, a todo o momento exigia.

Quando naquele nosso segundo encontro, me… confidencias-te que estavas feliz, por ter conhecido um homem como eu…
Um homem de voz rouca, doce e meiga…
Um homem de gestos gentis e calmos…
Um homem de atitudes e maneiras que suscitam na alma sentimentos de atracção profunda…

Parei o carro, olhei-te nos olhos… e de imediato te disse:
Também eu estou feliz!
Por ter conhecido, pois desde que a luz dos faróis do meu carro, te iluminou por completo o rosto e o teu corpo, eu senti que a tua presença tinha incendiado em mim um violento desejo físico; que me deixava ansioso por poder ser acariciado pelas tuas mãos, beijado pela tua boca e de sentir o aroma da essência do teu amor.

Recomeçamos a nossa viagem, mas na primeira curva apertada da estrada, tu perdes-te o equilíbrio e deixaste cair a cabeça nos meus ombros.
Eu estremeci mas não disse uma só palavra.

Deixei o carro correr velozmente até encontrar um porto seguro onde o parar.

Olhando-te demoradamente passei as minhas mãos pelo teu lindo rosto numa carícia lenta, ardente, afectuosa e espontânea, enquanto que os meus lábios soltavam palavras amáveis e envolventes.

Percebi então, que tu estavas de cabeça perdida, que os teus olhos e a tua linda boca entreaberta pediam a mais doce das carícias.

Mas apesar de ela me ter sido pedida tão humildemente, eu não te concedi ali,
a carícia desejada.

Pus de novo o carro em movimento… e vi que em todo o trajecto de volta te mantiveste calada e aborrecida.

Já à porta de tua casa… perguntei!

Estás aborrecida,
respondes-te que não….
Que apenas estavas demasiadamente incomodada.

Vi então os teus olhos se encherem de lágrimas, e no fundo deles um desespero enorme,
as mulheres nunca gostam que os homens as recusem. 

Mas tu naquele instante... estavas completamente enganada.

Pois a verdade!

A verdade é que eu... Te desejava.

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